The Bell Jar (Sylvia Plath)

Como já era de se imaginar, não consegui seguir com a referida lista de leituras do post anterior. Fiz uma espécie de cronograma mas acabei arrombando a linearidade dele ao perceber que alguns prazos foram se aproximando. Logo, minhas leituras nunca seguem um critério muito formal. Vou lendo conforme os títulos se avolumam na minha frente (dos lados, em cima da mesa de cabeceira, em cima das mesas, das cadeiras, empilhados no chão…), não necessariamente na ordem em que eles vão aparecendo e, enquanto esse blog permanecer sendo um blog pessoal e não do tipo patrocinado por editoras, como muitos blogs sobre literatura que tenho encontrado por aí, continuarei postando o que quiser e quando quiser.

Soube que minha orientadora pediu para que eu e minha colega apresentássemos The Bell Jar na cadeira que ela ministra, portanto, interrompi tudo o que estava fazendo (um milhão de trabalhos de tradução, versão e revisão) para me deliciar com a leitura da Sylvia Plath. A primeira coisa que veio em mente foi: por que esse livro está no currículo da disciplina? E não demorei muito para descobrir.

Basicamente, Esther Greenwood é uma estudante brilhante de 20 anos que passa a questionar a validade de sua carreira como futura escritora quando a mesma se vê gastando suas energias em um concurso para escritores perante às revistas femininas novaiorquinas. O tempo passado em Nova York, a relação com sua família e com o antigo namorado de colégio levam Esther a um profundo estado de depressão.

Após procurar um psiquiatra, sua situaçao só piora ao ponto em que Esther é submetida a uma sessão de eletrochoque. A partir daí, pensamentos e tentativa de suicício marcam a derrocada da personagem principal frente a sua redoma de vidro. Lendo sobre a vida e obra de Plath, descubro que ela mesma, enquanto desdobrava-se entre a vida doméstica e a carreira (professora e escritora) lutava contra a redoma de vidro, e que  The Bell Jar é um romance autobiográfico, contando os momentos iniciais da vida da escitora, porém, com cores ficcionais para distinguir os personagens reais de sua vida com os da ficção.

Li em algum lugar (acho que foi na introdução dessa edição) que The Bell Jar é considerado o “equivalente” do Catcher in the Rye, do Salinger. Li este último há uns dois anos e não consigo encontrar lá muitas semelhanças. Tá certo que o The Bell Jar lembra o Catcher in the Rye pelo fato de que a personagem principal não se adequa e nem faz questão de se adequar ao meio no qual ela está inserida… fora isso… não sei, o personagem principal do romance do Salinger me pare meio fatalista e violento, e não vejo muito disso na Esther. Preciso reler o romance e repensar toda essa ideia!

Será que naquela época ninguém se ligou que “terapia” com choques elétricos, na verdade, desencadeava traumas que só pioravam a situação dos pacientes? Acho que, como a maioria dos pacientes eram mulheres que não se satisfaziam com a situação que lhes era imposta (família, filhos, escravidão no lar etc), os médicos preferiam mutilá-las mental e intelectualmente para não permitir que elas andassem soltas e descobrissem o mundo por is próprias. Como a maioria não podia simplesmente sair da redoma de vidro em que estavam presas, passavam a desenvolver “patologias” como a histeria e a depressão. Esse tipo de tratamento deveria ser considerado um crime. E o que mais me choca é o fato de que ele era aplicado aqui, em Porto Alegre, no então sanatório São Pedro.

Boa leitura, boas reflexões and boas lágrimas.

Edição:
PLATH, Sylvia. The Bell Jar. New York: Harper Perennial, 2005.

15 thoughts on “The Bell Jar (Sylvia Plath)

  1. Pingback: Tweets that mention The Bell Jar (Sylvia Plath) « The Sun Sets -- Topsy.com

  2. Post novo!!
    A primeira vez que ouvi falar em Sylvia Plath foi na música “Notícias Populares”, da Ana Carolina. Depois, num livro de tradução, onde li e me encantei por um de seus poemas, não lembro do título, mas tinha esse trecho:
    “If the moon smiled, she would resemble you;
    You leave the same impression;
    Of something beautiful,but ANNIHILATING (…)”.
    Lindo, não?
    Eu gostaria muito de ler esse livro, em especial por ter uma personagem escritora – o que sempre me fascina, me traz identificação.
    Gosto das tuas dicas, e em breve sai mais um post no meu blog, e também te avisarei. Tu é minha musa inspiradora, tu sabe disso. Beijos!!

    • Acho que esse poema é do Ariel :)
      eu tinha esse livro, mas morreu carbonizado juntamente com as cinzas de um antigo amor :)

      A Plath é muito conhecida pelos seus poemas (e também pelos seus desenhos!), inclusive ganhou um Pulitzer com eles. The Bell Jar é seu primeiro e único romance. Maravilhoso.

      Tem uma música do Ryan Adams chamada Sylvia Plath. triste triste triste…

  3. Sobre a terapia com eletro-choque, eu tinha a mesma opinião que tu e fiquei horrorizada quando há uns dois anos atrás, um amigo comentou que um parente dele, que não estava bem, tinha sido submetido às famigeradas sessões. 0.0
    Então, só pra atualizar, as sessões de eletro-choque são feitas até hoje! Mas, por incrível que pareça, atualmente, uma sessão dessas pode salvar uma vida. Sei disso pq conversei com um psiquiatra que me explicou a forma como hoje é utilizado e em quais situações. Não estou dizendo que é algo bom, inclusive é sempre utilizado como última alternativa, mas o fato é que para certos casos, é a única forma de tirar uma pessoa da depressão. Bizarro, mas real. :-)

    • Oi, Lana!
      Obrigada pela contribuição e pela atualidade das informações :)
      Acredito que, nos dias de hoje, a ciência e a medicina avançaram a ponto de (quase) resolver (quase) todos os males físicos da humanidade. No entanto, minha “cisma” com o tratamento por eletrochoque é que ele era aplicado às mulheres consideradas loucas e neuróticas — e que na verdade não tinham nada de loucas e neuróticas, apenas não se conformavam com a vida que lhes era imposta…

      Abraços!

  4. Ah, lembrei (com muito gosto) das aulas de Norte-Americana III quando lemos os poemas dela…. Nesses poemas ficava muito claro o que a Amanda sensivelmente lembrou “Acho que, como a maioria dos pacientes eram mulheres que não se satisfaziam com a situação que lhes era imposta (família, filhos, escravidão no lar etc), os médicos preferiam mutilá-las mental e intelectualmente para não permitir que elas andassem soltas e descobrissem o mundo por is próprias.” O grande problema da Sylvia Plath foi ter nascido muito antes de seu tempo e acabar presa por uma sociedade estúpida e machista e querer uma liberdade que não lhe era permitida. Mais vale viver numa Bell Jar que viver num mundo que não permite que você viva.

  5. Tu, como sempre, dando umas dicas boas de leitura :)

    Tinha ouvido falar desse livro há pouco tempo, quando li algo sobre a (futura) adaptação cinematográfica dele. Mas só passei por cima. Lendo teu texto, me lembrei dele, e deu vontade de ler.

    Já coloquei na minha wishlist. Mas só quero se for essa edição aí, com essa capa, que é linda.

    Bêjo!

    • O que tu leu sobre a futura adaptação?
      Só sei que vai sair em 2012 e que vai ser com a Julia Stiles.
      Oooh, vai ser tão triste. :(

  6. Pura ignorância minha, mas só conhecia Sylvia Plath como poeta – e suicida, claro! pelo filme Sylvia – Paixão Além das Palavras. Fiquei bastante curiosa para ler The Bell Jar.

    Li Catcher in the Rye poucos meses atrás e já estou com vontade der ler novamente para rever certas passagens. Holden Caufiled é um tanto fatalista, mas não violento.

    • Li o Catcher faz bastante tempo e a imagem que fiz do Caulfield era de um garoto meio violento… acho que eu também deveria reler esse livro. Também fiquei com vontade agora!
      Rubia, sei que ando meio relapsa com o blog, mas é por uma boa (?) causa. Além disso, tenho trabalhado demais e dormido de menos. :\ Mas prometo atualizar em breve, pelo menos é o que eu espero que aconteça com o final do semestre!!

      Beijão!!

      • Quando reler o Catcher, me diga o que achou.
        Tudo bem quanto ao blog – avida é corrida mesmo e sempre tem milhares de coisas para se fazer – apenas não o abandone pelo twitter, ok?!
        Beijo!

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