Depois de quase um mês sem aparecer por aqui (culpo o calor de Porto Alegre que, por sua vez, é o culpado pela minha preguiça constante em fazer leituras que não sejam para o trabalho) finalmente publico o texto sobre a primeira leitura de 2011 — iniciada ainda no finalzinho de 2010. The Brooklyn Follies é um livro bom, interessante e rápido de ler. Sem contar as interrupções forçadas pela modorra de fim de ano, pela preguiça mórbida e pela leve inclinação natural à procrastinação quando Porto Alegre atinge os 40ºC, creio que o tenha lido em três ou quatro dias.
O romance conta a história de um senhor de idade, Nathan que, ao descobrir ter câncer de pulmão, decide se mudar para o Brooklyn, em Nova York, e por lá ficar até o fim de seus dias. Aposentado, divorciado e carregando uma série de arrependimentos nos ombros, Nathan tem apenas mais uma ambição em sua vida: escrever o The Book of Human Folly, uma reunião de diversas pequenas histórias sobre
every blunder, every pratfall, every embarrassment, every idiocy, every foible, and every inane act I had committed during my long and checkered career as a man. When I couldn’t think of stories to tell about myself, I would write down things that had happened to people I knew (…). (AUSTER, 2005:5)
Lá suas únicas preocupações são coletar material (histórias) para a composição do livro e prestar atenção em Marina, a garçonete do restaurante onde costuma fazer suas refeições. Porém, um encontro inusitado o põe novamente em contato com Tom Wood, seu sobrinho (filho de sua irmã), que trabalha em uma loja de livros usados e raridades após ter abandonado uma “brilhante e promissora” carreira acadêmica.
No início pensei que boa parte do livro seria dedicada ao fracasso de Tom, pois, no início do livro Nathan deixa claro que esse é um dos, senão o maior, drama da vida do sobrinho. Do ponto de vista de Nathan, ter largado a vida acadêmica para virar motorista de taxi em Nova York e, depois, ter cedido ao apelo de Harry para trabalhar em sua loja de livros usados parece ter sido um retrocesso na vida de Tom:
It wasn’t that he had ever wanted a great deal from life, but the little he had wnated turned out to have been beyond his gasp: to finish his doctorate, to find a place in some university English department, and then spend the next forty or fifty years teaching and writing about books. That was all he had ever aspired to, with a wife thrown into the bargain, maybe, and a kid or two to go along with her. It had never felt like too much to ask for, but after three years of struggling to write his dissertation, Tom finally understood that he didn’t have it in him to finish. Or, if he did have it in him, he couldn’t persuade himself to believe in the value of doing it anymore. So he left Ann Arbor and returned to New York, a twenty-eight-year-old has-been without a clue as to where he was headed or what turn his life was about to take. (AUSTER, 2005:23)
Até entendo a questão do status que uma vida acadêmica brilhante pode trazer. Mas não me pareceu que Tom estivesse realmente incomodado com isso. Às vezes, “retroceder” em alguns aspectos da vida pode significar um avanço em outras blablabla etc. Na minha opinião, a perspectiva de vida que Nathan tem sobre os desejos de Tom demonstram, sim, um retrocesso causado pela incompreensão da individualidade do sobrinho.
Outro aspecto que, na minha opinião, poderia ter sido melhor desenvolvido é o pano de fundo histórico. O romance se passa entre a corrida eleitoral de 2000 (que levou George W. Bush à presidência) e os ataques ao WTC em 2001. Porém, são pequenas menções por parte do narrador ou dos pesonagens que situam o leitor no contexto. Talvez a leitura de Extremely Loud & Incredibly Close, do Jonathan Safran Foer e Everyman, do Philip Roth, tenham contribuído para que eu esperasse mais disso no Brooklyn Follies, afinal, estou me esforçando para tentar “entender” as tendências da literatura contemporânea dos Estados Unidos. Não só daquele país, mas parece ser uma tendência e uma recorrência produzir romances cujos personagens são já senhores de idade, como Brooklyn Follies, Everyman e Slowman, do J. M. Coetzee (cito esses pois são os mais recentes da minha lista).
O ponto alto do romance é a aparição misteriosa de Lucy, sobrinha de Tom. Confesso que não sou nenhuma profunda conhecedora de crianças, mas tive a impressão, em alguns momentos, de que Auster está descrevendo uma criança de uns, talvez, não mais que cinco anos quando, na verdade, é dito que Lucy tem nove anos. Confesso que foi difícil me convencer de que a criança retratada no romance tem nove anos.
Como dito anteriormente, o livro é bom. E interessante. Mas não chega a ser do tipo “remarkable” ou “highly remarkable”, com um grande conflito além do paradeiro de Aurora, irmã de Tom e mãe de Lucy, que, na minha opinião, se mostrou o grande drama do romance. Ao que tudo indicava, o câncer de Nathan e o fato de Tom ter abandonado a vida acadêmica seriam os grandes motes do livro. O que incomoda um pouco é, próximo do final do livro, as “resoluções” no estilo novela da Globo. Não que sejam ruins, muito pelo contrário. Elas até que são verossímeis, mas algumas situações eu achei meio ‘deus ex-machina’ demais. Acho melhor encerrar por aqui senão acabo contando o final do romance.
Boa leitura!
Edição:
AUSTER, Paul. The Brooklyn Follies. London: Faber and Faber, 2005.